sábado, 23 de agosto de 2008

Olhá bóliberli!

“Bóóóólinha” Lá vai o Senhor das Bolas de Berlim “É com creme e sem creeeeeme!”, a atravessar a praia de um lado ao outro, concessionada ou não concessionada, sem distinções, a distribuir alegrias a um euro.

-- E olhe que estas não são daquelas injectadas, minha senhora! – assegurava o Senhor das Bolas de Berlim a uma senhora que lhe comprara uma com creme. – As nossas bolinhas são cortadas ao meio com a tesoura e o creme é posto com uma colher. Essas com máquinas que injectam…nem é bom comer! – e com esta frase, acentuada com um ar de repulsa, o Senhor pega nas arcas das Bolas e abala. “Olhá bóliberli!”

Vai o Senhor das Bolas de Berlim, a caminhar rumo a lado nenhum, quando é acordado do seu transe que o faz lançar pregões ininterruptamente, por um ladrar furioso. É o cão que guarda rancor contra o Senhor das Bolas de Berlim…se ao menos lhe dessem uma bolinha de Berlim…O Senhor das Bolas de Berlim, já enervado pela terceira vez que o cão lhe interrompe o anunciar, balança o braço e arremessa uma das arcas ao focinho do cão, que é projectado pelo ar, a ganir. Na verdade, o Senhor das Bolas de Berlim não deu com a arca no cão. Deu-lhe para isso mas não deu para o fazer. Era muito dado aos animais! Em vez disso sorriu e seguiu o seu caminho. Desta vez ia visitar um casal de estrangeiros que queria duas bolinhas, a julgar pelos dois dedos espetados do homem-camone.

-- Com creme ou sem creme? — Yes! Yes! – respondeu a mulher-camone. Então o Senhor das Bolas de Berlim tirou duas sem creme (o que havia mais em stock), entregou ao casal e recebeu os dois euros.

O dia desenrolou-se assim, rotineiro, com este processo de compra e venda repetido (mais ou menos) da mesma maneira até ao fim, quando a praia está vazia, tirando uma ou outra gaivota ou um implacável caçador de conquilhas.

Nesta altura o nosso herói dirige-se para trás das dunas pejadas de latas enferrujadas e suspeitos pedaços de látex. Aí, o Senhor das Bolas de Berlim ajoelha-se com as arcas do produto ao lado e lança um sonoro “bóóóóliberlim! É com creme e sem creme.”. Em resposta, as dunas abriram-se, deixando sair um brilho doirado e prateado que inundou o Senhor das Bolas de Berlim. Doirado do creme e prateado do açúcar das bolas de Berlim. A Gruta das 1001 Bolas de Berlim! Colunas de bolas de Berlim, rios de creme e montanhas de açúcar enfeitam esta sala das maravilhas. Mas não só de bolas de Berlim é composta a gruta. Também lá há línguas da sogra, pastéis de nata, pastéis de amêndoa e tudo o mais o que um Senhor das Bolas de Berlim, como os muitos que habitavam na Gruta, pode vender. Só o nosso Senhor das Bolas de Berlim é que é um puritano. Só Bolas de Berlim!

O comum dos mortais teria ficado extasiado com a visão da Gruta das 1001 Bolas de Berlim, mas o Senhor das Bolas de Berlim não era um comum mortal e como tal pegou nas arcas com os seus braços queimados, entrou na caverna, como fazia todas as noites para preparar o farnel de outros, e esta fechou-se de novo nas dunas, escondendo do mundo o covil dos Senhores das Bolas de Berlim.